Lidando com provocações….

Eu lembro bem da sensação ruim que sentia cada vez que me chamavam de girafa na escola, ou de Olivia Palito, principalmente se era da turma do menino que eu gostava (sempre era)…. crianças sempre foram cruéis com apelidos, provocações, não é de hoje… Sobrevivi, feliz, e hoje sou eu quem faz piada dos meus 8km de pescoço. E ser magra hoje está longe de ser um problema.

Só que… e quando é com seu filho?
Desde o diagnóstico da diabetes, ele NUNCA passou por nenhuma situação negativa em relação a doença, no que diz respeito ao convívio com outras crianças. Muito pelo contrário, tem até um amigo que foi pedir para a mãe para ter diabetes também, assim poderia “medir o dedo junto com o Gui”. Muita curiosidade, normal da idade, mas nada demais.

Ontem ele me contou que na sexta, no meio de uma brincadeira com um menino que “ele não gosta muito, porque só fala coisas de mau gosto” (mas que eu pedi para ele dar uma chance, porque também é novo na escola), ao pedir alguma coisa pra ele, escutou de volta: “sai doente.. maquininha..” (pq uso a bomba, mãe!)… e os olhos enchendo d’água…

– Que raiva!!! (juro, foi a primeira coisa que saiu… fiquei roxa!)
– Pois é, não sei porque você disse que eu tinha que ser amigo dele….
– O que você fez?
– Nao consegui fazer nada… fiquei muito triste e sai de perto…
– Você se acha doente? (tentando voltar ao normal para conversar decentemente sobre o assunto)
– Não! Eu uso a bomba para não ficar doente.
– Certo, você tem uma doença, mas que se cuidar direitinho, tem uma vida normal, saudável, entende isso?!
– Sim.
– Doente estava eu, quando fiquei 20 dias de cama com febre, internada… concorda? E está semana de novo, certo?
– É… mas do jeito que ele falou, parecia que queria que eu batesse nele.
– Provável que sim, ainda bem que já percebeu, porque você não vai bater em ninguém… ele está querendo chamar atenção…. A próxima vez que ele falar isso, você pode responder que não é doente, e que se ele quiser saber o que é diabetes, você pode explicar, já que ele não sabe nada… e sai de perto… o que acha?
– Pode ser… mas não queria que ele falasse de novo.
(Abraço apertado)

Na outra escola, riram no primeiro dia quando ele chegou de óculos, e no segundo dia, ninguém falou mais nada…. ele teve medo de ir de aparelho, mas não falaram nada: a professora também usava! Um amigo do prédio uma vez o chamou de Cebolinha, porque ele trocava o L pelo R, e ele veio sem entender nada, pq nem percebia..
Pode ser mais uma dessas situações que daqui uma semana ele nem lembre, mas doeu… porque outros usam óculos na escola… ou aparelho…. mas diabético, só ele. E pela primeira vez eu percebi que ele sentiu isso. E doeu em mim.

Pelo menos ele está numa fase muito mais comunicativa comigo, se abrindo mais, não preciso ficar adivinhando o motivo do bico. Vou tentar ajudar no que puder, mas no final das contas, ele vai ter que se virar sozinho, não estarei sempre do lado… e não porque ele tem diabetes, mas porque está crescendo!

Força… e paciência, sempre!
Bjos

  • Ai Jo, doeu em mim, imagina em vc. Tb sofria por ser a Olivia Palito, obviamente tb sobrevivi, feliz, mas acho que sempre ficam marcas, as vezes sutis que nós não percebemos, mas nosso comportamento transmite, para os mais atentos. Nao acho que no meu caso e na maioria deles a gente passe sem nenhuma sequelas por essas brincadeiras de mal gosto, apenas aprendemos a conviver com elas, a sobreviver, e as vezes a melhorar até por causa disso, mas as marquinhas ficam. Por essa razao acho que a grande luta contra o Bullying deve começar desde cedo e com qualquer brincadeira de mal gosto, para plantar na cabeça das crianças que ser cruel não é aceito, seja na idade que for. Dificil mesmo pra nós mães lidar com isso, saber como fazer nossos filhos fortes para passar por cima disso sem se chatear (tanto) nem criarem complexos. Adorei sua postura, o Gui tem sorte de ter uma mãe como vc 🙂

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